Aos 40 anos, Hugo Ferrão enverga com honra a missão de ser o mestre da “maior embarcação tradicional portuguesa” – e, provavelmente, a mais bonita.
De uma frota de centenas de barcos tradicionais que navegavam o estuário do Tejo, restam apenas dois originais e operacionais na Baía do Seixal: o bote de fragata Baía do Seixal e o varino Amoroso – “como o mestre”, diz Hugo Ferrão, 40 anos, homem do leme do barco de passeio mais bonito da baía e que desde os 5 anos, garante, passa mais tempo a bordo do que com os pés na terra.
Primeiro ia à pesca com o avô, depois com o mestre Zé Palhinhas, a quem deve tudo o que sabe sobre ventos e marés, velas e lemes e que, diz, foi quem o “ensinou a valorizar a tradição”. Hugo Ferrão não nega a dureza da vida de marinheiro, mas diz que, felizmente, “as agruras têm sido poucas”. Não gosta de falar dos sustos que apanhou e sobre isso diz só que é coisa que não se deseja ao pior inimigo. “Eram outros tempos.”
Agora, que está há nove anos ao comando do Amoroso, vive a vida em passeio. De Lisboa a Vila Franca de Xira vale tudo, assim deixe o vento. Vai buscar e levar passageiros à Ponta dos Corvos, traz turistas da capital para passar o dia (é um poço de dicas valiosas para quem gosta de comer bem), e sabe, só pelas marés, quando é que o tempo vai virar de repente ou quando não é boa ideia sair do cais.
O Amoroso, que acaba de completar 100 anos, deve as pinturas ornamentais à mão a uma missão de resgate do município, que na década de 1980 o comprou e mandou restaurar tal e qual era originalmente, para torná-lo um monumento vivo do concelho, uma bandeira patrimonial de usufruto público. Apesar de algumas modernices que tiveram de ser acrescentadas – casas de banho, bancos e motor –, tudo o resto funciona à mão, tal como deve ser, e Hugo e a tripulação até gostam que os passageiros se envolvam nas actividades do barco, “assim ficam a saber que só a vela que é içada todos os dias pesa 300 quilos, não é brincadeira”. Mas funciona que é uma maravilha. E não é só para ir dar umas voltas dentro e fora da Baía do Seixal que Hugo Ferrão está sempre pronto. É homem que respira as tradições náuticas como ar para viver e sempre que possível faz questão de convidar os passageiros a partilharem uma caldeirada de peixe preparada pela tripulação, como se fazia antigamente.
Além dos passeios gratuitos organizados pelo Núcleo Naval do Ecomuseu, é possível organizar programas personalizados para grupos e crianças. Por exemplo, baptismos de vela, casamentos. Ou as tais caldeiradas, cozinhadas pela tripulação.
Reservas: 212276700
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