As comunidades africanas, boa parte já de terceira geração, correspondem a quase metade da população do concelho. Não é, por isso, de estranhar, que a mistura de aromas, temperos e sabores faça parte da história gastronómica do Seixal. Entre a Amora e a Arrentela há (pelo menos) dois bastiões da boa comida africana de panela, cozinhada com amor e paciência, como deve ser.

Cachupa à mesa da Tia Bé

Os petiscos de Benilde Monteiro sempre foram motivo de convívio, mas foi com a cachupa, votada pela clientela como “a melhor da região”, que criou um império familiar apostado em perpetuar a cozinha cabo-verdiana.

“A nossa mãe educou-nos, sobretudo, para sermos humildes e gratos.” É assim que Ana Tavares, filha de Benilda Monteiro, Tia Bé para toda a gente, apresenta a mãe. E apressa-se a contar que o restaurante inaugurado na Amora em Dezembro de 2016 foi mais uma etapa vencida pela mulher que chegou de Cabo Verde e se viu sozinha em Portugal com cinco filhos para criar. Cozinhava bem e chegou a rodar algumas cozinhas até se decidir a abrir uma em nome próprio. Aliás, várias.

A primeira foi na Cova da Piedade. Esta, na Amora, é já a terceira. Um espaço arejado, mais moderno, bem diferente do primogénito, ponto de encontro e convívio da cultura cabo-verdiana. Uma coisa os une: a cachupa tradicional, que, a acrescentar a outras especialidades cabo-verdianas, continua a ser o grande motivo de romaria. A moamba também sai bem e há uma secção da carta dedicada às carnes grelhadas, que traz um cheirinho a Brasil para a mesa. Em dias incertos aparecem o choco frito com arroz de feijão à casa e, para começar, há sempre os pastéis de milho para entreter.

A cachupa leva tempo (e amor) a fazer, e como todos os bons pratos de panela, é no dia seguinte que sabe melhor. Consta de um estufado de milho e feijão e outros legumes, batata e banana-pão cozidas, e pode incluir peixe (a cachupa pobre) ou vários tipos de carne (cachupa rica).


Rua Infante D. Augusto, 76 B, Amora (Seixal)
Tel.: 967 342 638
Preço médio: 12€


Café Bons Amigos: fábulas, moamba e calulu

Há mais de 30 anos de portas abertas, é um bocadinho de Angola guardado no meio da Arrentela. Uma casa de família, onde, calha, se come muito boa comida angolana de tacho.

A princípio não se sabe bem ao que se vai, e se assim não for a experiência fica pela metade. Parece um café normal, depois começa a dar sinais de restaurante e só minutos mais tarde se passa os olhos pela parede e se dá conta da colecção de animais embalsamados que povoam o espaço. Incluindo um crocodilo bebé, que de vez em quando é exibido em cima do balcão. Veio tudo de Angola, com Morais e Mila, que partilham os tachos, o serviço e o amor pela terra onde nasceram. 

A casa, que também põe um pezinho em algumas especialidades locais, é conhecida por duas coisas: a moamba e o calulu de peixe, feitos tal e qual como manda a tradição. O peixe seco do calulu, por exemplo, vem de Angola, para garantir que a coisa é a sério e a matéria-prima de primeiríssima qualidade. 

E como há histórias que se guardam para sempre, esta do crocodilo e a de outras peças decorativas, como chifres e carapaças de tartaruga, é rapidamente contornada com uma piada ou uma fábula que muda conforme o dia.


Rua da Sociedade Filarmónica União Arrentelense, Arrentela (Seixal) 
Tel.: 218 260 301
Preço médio: 10€