Em tempos foi um dos epicentros fabris da região. Hoje de cara lavada, a Frente Ribeirinha é uma das zonas mais movimentadas da Amora, onde às rotinas típicas de bairro se vão encaixando novas caras, negócios e espaços de lazer.
O passeio acompanha o desenho do lado oeste da baía, primeiro ao longo da Avenida Silva Gomes, com ligeiros desvios na rota para conhecer alguns dos símbolos, património natural e personagens incontornáveis do bairro. Pelo caminho, há uma praça, um largo e a Rua Fonte de Prata, conhecida como a Frente Ribeirinha da Amora, que é, pela proximidade ao rio, a zona mais concorrida da freguesia.
Casais apaixonados em passeios de mão dada à beira-rio, famílias em caminhadas vigorosas de lá para cá, grupos de amigos que já somam décadas à relação e outros que se conhecem da escola reunidos nos sítios do costume, pessoas de trela pela mão a segurar o cão que se engalfinha no do vizinho, assim corre a vida no coração da Amora. Come-se gelados, ouve-se gargalhadas altas e música das colunas dos grupos que se instalam no jardim, atravessa-se o fumo que sai das grelhas montadas à porta dos restaurantes e pára-se aqui e ali para cumprimentar os vizinhos.
A zona ribeirinha apresenta um relvado reabilitado com uma largura simpática para passear a pé ou de bicicleta, ou parar e apreciar a vista num dos bancos protegidos por um dossel de videiras. Quem vive na Amora defende orgulhosamente que a melhor vista da baía é contemplada do outro lado. Já quem vive no lado do Seixal diz, sem qualquer hesitação, que a melhor vista da baía é na Amora, porque, adivinhe-se, se vê o Seixal. É uma guerra amigável antiga, que sobrevive à base do mesmo argumento. O melhor é ficar fora dela, já que este braço de água que entra terra adentro compõe uma bonita paisagem, seja em que ponto da sua extensão for.
Quem vive na Amora defende que a melhor vista da baía é contemplada do outro lado. Já quem vive no Seixal diz o oposto. É uma guerra amigável antiga. A baía compõe uma bonita paisagem, seja em que ponto da sua extensão for.
Na Avenida Silva Gomes, as edificações baixas e carregadas de história não passam despercebidas. Em 1888 foi aqui construída a fábrica da Companhia de Vidros da Amora, numa quinta junto ao rio que hoje é um supermercado. Na época, as garrafas e garrafões aqui produzidos tiveram um grande impacto na economia nacional, reduzindo em grande medida a importação destes produtos, que até aí, vinham de França e Alemanha.
Durante vários anos, foi a única fábrica deste tipo no país, o que levou à construção de uma área de habitação para os trabalhadores, que vinham de outros locais para aqui se fixarem. Hoje essas casas conferem à frente ribeirinha uma aura histórica e acolhedora, e dão casa a diversos negócios locais, sobretudo restaurantes, bares, gelatarias e pastelarias com esplanadas bem colocadas na frente de rio.
1. CORETO
O ROSTO DA ZONA RIBEIRINHA
É impossível passar na zona ribeirinha da Amora sem poisar os olhos no coreto que ocupa a Praça 5 de Outubro. Foi inaugurado em 1907 e desde então serviu de palco às mais diversas cerimónias populares, incluindo desfiles, paradas, discursos e, claro, concertos. É um ícone da zona e um ponto de encontro para os jovens da freguesia.
2. CASTA WINE
ENTRE VINHOS E PETISCOS
Foi inaugurada no final de 2020 e trouxe à frente ribeirinha da Amora uma opção diferente de tudo o que ali existia. É o poiso perfeito para refeições partilhadas à volta de uma mesa recheada de petiscos, na companhia de um bom vinho e, sempre que possível, na esplanada virada para o rio. Da ementa destacam-se as tábuas de queijos e enchidos, os ovos florentine, com espinafres salteados e molho holandês em bolo do caco, e o folhado do chef, com queijo de cabra e compota de abóbora e nozes.
Casa de petiscos não é casa de petiscos sem um bom prego ou pica-pau, e na Casta são ambos servidos em bolo do caco. A garrafeira conta com referências de várias regiões do país e algumas raridades.
Largo Manuel António da Costa, 34, Amora
Tel.: 938542142
Preço médio: 15€
3. O TRICKLAS
UM BOM PEIXE NA GRELHA À BEIRA-RIO
Aqui a história faz-se sobretudo de peixe grelhado, de forma simples, para respeitar a matéria-prima, que, por ser de qualidade, faz o trabalho quase todo sozinha. “A sardinha é a rainha da casa”, garante Jorge Silva, proprietário, que vai interrompendo a conversa para cumprimentar os clientes que se levantam satisfeitos, ou os que chegam e páram para saber quais os peixes do dia.
Jorge nasceu em São Pedro do Sul, mas veio morar para o Seixal aos 5 anos e por aqui se deixou ficar. Grande adepto dos relvados, jogou em vários clubes do concelho, e exibe, com orgulho, uma mão-cheia de cartões de jogador com a sua fotografia.
Na grelha, Virgílio Viegas dá conta da situação e faz sempre questão de perguntar se o produto estava no ponto. O peixe pode vir para a mesa em doses para dividir ou em menus individuais que asseguram também o café e a sobremesa. No inverno as comidas de tacho tomam conta da ementa, com especialidades como a orelha de porco, ou pratos tradicionais de forno, como o bacalhau assado. O espaço não é grande, mas a esplanada ampla compensa e convida a prolongar a refeição. Em noites especiais, há sessões de fado ao ar livre.
Rua dos Lobatos 24 B, Amora
Tel.: 212222688
Preço médio: 12€
4. BIANCO AMORA
É FRUTA OU CHOCOLATE?
Em copo ou em cone, na Bianco Amora há vários sabores de gelado – e o de pistácio, ao que parece, esgota num instante. Os favoritos dos miúdos são os de Maltesers e de Mars.
A Bianco Amora é uma gelataria e pastelaria com soluções fresquinhas e gulosas para lanchar, como o waffle ice, servido com uma bola de gelado, e os crepes com Nutella. Mas também serve almoços ligeiros, como saladas, tostas e pregos, e brunch, com um menu generoso, disponível até às 14h00. Para manhãs de menor apetite, há ainda a opção de mini-brunch, com croissant, ovos mexidos, bacon, sumo natural e café. Para acompanhar as refeições, a oferta inclui sumos naturais e batidos – que podem levar bolas de gelado.
Largo Manuel António da Costa, 1, Amora
Tel.: 210167305
Gelados desde 2€
5. TABERNA DA AMORA
TABERNA MODERNA, COZINHA TRADICIONAL
Apesar da casa moderna, este restaurante mantém o melhor de uma taberna – cozinha tradicional, comida farta e ambiente animado na sala. Reúne sabores de vários pontos do país e isso está espelhado na ementa, onde se perfilam o bacalhau à minhota, as migas lagareiras de bacalhau na telha e a francesinha.
Abriu há quase dois anos e já é conhecido pelos petiscos, como os ovos mexidos com tomate assado e queijo Ilha, e pelos pratos feitos com produtos da região, como o bife do lombo com cogumelos e moscatel de Setúbal.
Largo António Manuel da Costa, 5, Amora
Tel.: 924445589
Preço médio: 15€
6. AMORA FUTEBOL CLUBE
MUITAS FELICIDADES E 100 ANOS DE VIDA
Completou 100 anos, a 1 de Maio, e prepara-se para levar obras. Não tarda exibirá um novo estádio, totalmente remodelado, com espaço para lojas e restaurantes. O Amora Futebol Clube já acolheu vários talentos, entre eles Matateu, Diamantino e Jorge Jesus, que aqui se iniciou como treinador.
O Amora esteve na primeira divisão do campeonato nacional, entre 1980 e 1983, e está, desde o ano passado, na primeira divisão com a equipa feminina. Carlos Henrique, o presidente, conta com orgulho que o pai já ocupou esse mesmo lugar e garante que naquele clube fazem-se amigos, daqueles que duram uma vida inteira.
Apesar de ser um espaço reservado a associados, o Amora Futebol Clube não se faz difícil a abrir as portas a curiosos que queiram saber mais sobre a história e as vitórias da colectividade, devidamente dispostas em vitrines com taças e medalhas arrecadadas ao longo dos anos.
Para dar com o edifício, é preciso continuar a Rua da Ponte de Prata até ao fim, cortar à direita para a Rua dos Operários e seguir até encontrar à esquerda a Rua do Amora Futebol Clube.
Rua do Amora Futebol Clube
Tel.: 212222859
Todos o conhecem como Pataias
Um clube faz-se de gente. De quem acabou de chegar, de quem por ali passou e já foi, e de quem sempre ali esteve. Pataias é um dos rostos mais conhecidos do Amora Futebol Clube.
Chama-se Manuel Júlio Pinheiro, mais conhecido como Pataias (na imagem, à direita, ao lado do presidente do clube, Carlos Henrique), e é um dos jogadores mais emblemáticos do Amora Futebol Clube. A origem da alcunha remonta à infância, quando vai com a família para uma vila na Marinha Grande com esse nome. “O meu pai foi trabalhar para lá, numa fábrica de vidro e cimento branco. Quando voltámos, éramos os Pataias”, conta.
O pai, de quem herdou não só o epíteto como o gosto pela bola, jogou no Amora, na década de 1930. Manuel Júlio, hoje com 78, jogou na equipa principal nos anos 1960, fez parte da equipa de veteranos e entretanto deixou os relvados porque o “corpo já não deixa”: “Tenho duas marcas ‘de guerra’ nos joelhos.” Mostra duas cicatrizes ao alto, mais de um palmo cada uma. “Guerra”, que é como quem diz “a vida”.
A conversa é interrompida pelos “galhardetes” de brincadeira cruzados com quem passa, enquanto mostra com orgulho a parede que exibe as fotografias dos vários plantéis que compõem os 100 anos de história do clube. Conhece muitos pelo nome e sabe de cor mais datas do que se crê possível, ou não fosse um dos mais ilustres sócios do clube. No saco que leva ao ombro traz energia de gente nova, uma lupa para ler as mensagens no telemóvel e um sem-número de histórias, cada uma mais vibrante do que a outra.
7. PARQUE DO SERRADO
1900 HECTARES DE VERDE
A 10 minutos a pé da zona ribeirinha, junto à igreja da Amora, começa a surgir uma mancha verde que dá pelo nome de Parque do Serrado. Foi reabilitado em 2018 e veio compor a maior zona verde da freguesia, colada à Quinta da Atalaia, transformando-se rapidamente num dos espaços mais concorridos em dias de sol. Nos seus quase 19 mil metros quadrados cabem percursos para caminhadas, espaço para piqueniques com mesas e cadeiras (à sombra) e uma ampla área de relvado, ideal para jogos e brincadeiras em família ou entre amigos.
Rua de Cacheu, Amora
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